Friday, October 27, 2006

Na iminência de.


Un couple parfait (França/Japão, 2005). De Nobuhiro Suwa. Com Bruno Todeschini, Joana Preiss, Nathalie Boutefeu, Valeria Bruni Tedeschi. Cores. Duração 104’.

Existe casal perfeito? Tal indagação pode nortear uma discussão em torno do filme Um Casal Perfeito. Nobuhiro Suwa paira sobre um relacionamento prestes a “desfazer-se”. Na iminência da separação, Marie e Nicolas, interpretados brilhantemente por Valeria Bruni-Tedeschi e Bruno Todeschini, regressam à Paris, após viverem anos em Lisboa, para o casamento de um amigo. A primeira cena se passa dentro de um automóvel em movimento em que ambos conversam. No entanto, o que fica presente para o espectador é a “falta de diálogo”. As palavras soam apenas para completar o vazio ou o incômodo da existência conjunta. Assim, anuncia-se o “casal perfeito”.

As cenas seguintes dão força ao que a primeira sugere. Com a câmera fixa, no quarto de hotel, o casal discute em qual cama cada um dormiria. O diálogo arrasta-se entre silêncios, respostas monossilábicas e a ansiedade na resolução do divórcio. Percebe-se que o que se escolhia ali não era somente “quem ficaria com qual cama”. Na atuação dos próprios atores está presente a tensão da nebulosa existência conjugal. A opção de não fazer uso do tradicional “plano/contra-plano” acentua o ritmo monótono do filme. A escolha de ambientes claustrofóbicos sustenta o sentimento de angústia e saturação do casal. Na construção desse clima, Suwa utiliza-se de escassa iluminação, poucos planos, enquadramentos estáticos e “horas-mortas” como o fechar de uma porta.

O divórcio é revelado por Nicolas num jantar entre amigos. Paradoxalmente, estes confessam, diante da surpresa, tê-los como um casal perfeito. O desconforto de Marie é flagrante. Nesse instante, tem-se o plano do seu rosto, o primeiro do filme. Nota-se, na sua expressão facial, sua dor, sua fragilidade frente aos amigos e ao próprio cônjuge. É evidente que toda a narrativa tem foco na alma feminina. É na sensibilidade da mulher que se concentra a maior parte das imagens. O desalento da perda, o desfazer-se da memória, o deixar de partilhar a vida da pessoa com a qual viveu 15 anos são sentimentos presentes na angústia existencial da atuação de Valeria Bruni-Tedeschi que admiravelmente dispensou qualquer verbalização nas cenas do Museu Rodin. São nessas cenas também que se encontram os primeiros ecos de uma reconciliação, quando Marie quer partilhar um poema de Rilke, mas diante do desafeto do ex-esposo, vê a amplitude do distanciamento em que se encontra seu relacionamento.

Distanciamento que se concretiza no interesse que Nicolas demonstra ao conhecer uma mulher no casamento de seu velho amigo. Durante uma longa conversa, permeada por taças de vinho, insinua-se algo entre os dois. No fim da noite, apesar da companhia desejada, ele ainda encontra-se só. O vazio da existência ainda persiste. E dói. O espectador pode sentir as agruras da solidão. Por outro lado, o diretor sugere, de forma ainda mais sutil, a probabilidade de um novo relacionamento para Marie ao encontrar um ex-colega de estudos, em uma de suas visitas ao Museu Rodin. No entanto, diante da iminência de suas vidas tomarem outros rumos, surge a possibilidade do reencontro do “casal perfeito”. Quando ambos separam-se fisicamente, passam a dormir em quartos diferentes, Nicolas procura Marie, e num impulso de desejo, tocam-se e quase se envolvem sexualmente. Quase. É como se impusesse a necessidade do distanciamento físico para enxergarem melhor o que estava acontecendo entre ambos. Ou simplesmente sentiram a falta física um do outro, talvez, por puro costume. Não se sabe, imagina-se.

Na última cena do filme, Nicolas leva sua ex-mulher, decidida a viajar para Bordeaux, à estação de trem. Na despedida, entreolham-se longamente como se estivessem vendo um filme espelhado nos olhos do outro. Ou seria um espelho deles mesmos? O trem ameaça partir, abraçam-se, e a mudança de planos realiza-se. O trem parte lentamente. Uma analogia pode ser feita a um outro filme com a temática “relação-amorosa-não-resolvida”, Antes do pôr do Sol de Richard Linklater (EUA, 2005), em que a personagem principal diz “baby, você vai perder esse avião!” e ele responde “eu sei”. Embora sutil, aqui o desfecho é explicitamente verbalizado.

Suwa “paira” na relação afetiva do casal durante todo o filme, não mostrando causas da separação, nem um desfecho explícito de reconciliação. É na margem entre a ação e a intenção que abre espaço para o público, para a interpretação individual de quem assiste. Nas palavras de Jean-Claude Bernadet, “no ato de ver e assimilar um filme, o público transforma-o, interpreta-o, em função de suas vivências, inquietações, aspirações, etc.”1 A maestria de “Um Casal Perfeito” está na construção da “atmosfera”, presença constante nos filmes orientais, na qual habita seus personagens e o espectador, no mínimo, por 104 minutos.

1Bernadet, Jean-Claude, O que é cinema. São Paulo: Brasiliense, 4ª ed., 1980. p.80


Wednesday, October 25, 2006

Assim, perto demais.

Midiático, @, net, cibernético, virtual, in, tá on? bjkas, naum, kkk: assim, perto demais. Parecem algumas palavras soltas, mas são muito mais. Nem sei os formatos ou padrões, portanto, nem o que distoa. Sem muitas compreensões, enquanto a parafernalha vai andando no ritmo "o-barato-é-muito-louco-e-o-processo-é-lento", vou escrever umas vez em quando. Hoje é o primeiro "post" sem muita vontade, em digestão. O minímo é: bem-vindos à diesege vital.